segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Primeiro computador a chegar ao Brasil .


:: A Era do CPD::
Até o final da década de 50, computadores eram pouco mais que raridades curiosas e quase inacessíveis no Brasil. Seus usuários contavam-se nos dedos. O primeiríssimo foi adquirido pelo governo do Estado de São Paulo, em 1957: um Univac-120 para calcular o consumo de água da capital. Equipado com 4.500 válvulas, fazia 12 mil somas ou subtrações por minuto e 2.400 multiplicações ou divisões, no mesmo tempo. No setor privado, o primeiro computador, um Ramac 305 da IBM, foi comprado em 1959 pela Anderson Clayton. Dois metros de largura, um metro e oitenta de altura, com mil válvulas em cada porta de entrada e saída da informação, ocupava um andar inteiro da empresa. A unidade de disco, com 150 mil bytes de capacidade e um único braço de acesso, tinha dois metros de altura, exibindo-se em uma redoma de vidro, Levava cinco minutos para procurar uma informação. A impressora operava à espantosa velocidade de 12,5 caracteres por segundo.

Na década de 60, os computadores já não eram tão raros e começaram a ser cada vez mais necessários na vida das grandes empresas, órgãos do governo federal e universidades. Ao mesmo tempo, tornavam-se símbolo de status, sendo exibidos com orgulho nas salas envidraçadas dos Centros de Processamento de Dados ( CPDs). Promoviam-se excursões para mostrar as poderosas e misteriosas máquinas, que impressionavam os visitantes com suas dezenas de luzinhas piscando e impressoras despejando, em "disparada", montanhas de papéis contendo informações. Era um acontecimento!

O CPD era um mundo à parte nas empresas. Praticamente inatingível, a ele tinham acesso somente os profissionais diretamente envolvidos com os computadores - operadores - programadores, analistas de sistemas, técnicos de manutenção - e as equipes de perfuração de cartões. Todos os envoltos numa aura de "mistério" e despertando a curiosidade e a admiração dos demais funcionários das empresas. O único elo de ligação entre os dois mundos distintos eram as pilhas de formulários contínuos contendo os dados já processados, que eram devolvidas aos usuários das áreas que requisitavam os serviços.

:: Grande Porte para Grandes Usuários::
Em 18 de Agosto de 1959, o repórter Abram Jagle contava, na Folha da Tarde, sua grande surpresa ao ser apresentado a um computador. A máquina tinha sido adquirida recentemente pela Anderson Clayton. " O operador apertou, no teclado, cinco números e a máquina de escrever ( um dos conjuntos do computador) escreveu: 'apresento as minhas boas vindas à reportagem das Folhas, Ramac-IBM 305, Anderson Clayton'. ... O cérebro eletrônico vai permitir um trabalho muito mais rápido e perfeito de controle, por exemplo, de quantidades e qualidades de algodão produzido na área abrangida pelas atividades da Anderson Clayton. O prazo da safra de algodão é muito curto.
As informações são recebidas por telefone e anotadas em fichas cujo processamento não pode ser humanamente tão rápido como já se faz mister, considerando o elevadíssimo número de clientes da empresa. O computador, além dos referidos registros e cálculos, fará outras tarefas, como faturar, registrar duplicatas, controlar cobranças, atualizar estoques e créditos..

O computador da Anderson Claytonera um dos muitos cuja importação vinha sendo estimulada pelo governo desenvolvimentista de Juscelino Kubistcheck. Eleito em 1955 por maioria esmagadora, depois de comandar a prefeitura de Belo ;horizonte e o governo de Minas Gerais, o ex-médico de personalidade carismática levou ao palácio do Catete, no Rio de Janeiro, uma filosofia de governo baseada no desenvolvimento econômico planejado e destinada a tirar o país do atraso. "Crescer 50 anos em cinco" era o seu lema e , para pô-lo em prática, traçou uma estratégia(Planos e Metas) para dotar o país de uma base industrial e de uma infra-estrutura de serviços básicos, com grandes investimentos em energia elétrica, produção de petróleo, ferrovias, rodovias, portos, siderurgia, contrução naval, indústria mecânica e de material elétrico pesado e educação. Para promover a integração do país, estava prevista a transferência da capital para o Planalto :Central, com a criação de Brasília, e a abertura de uma nova rodovia ligando as regiões norte e central, a Belém-Brasília.


JK(à direita, sentado) examina as plantas da nova Capital Federal e a maquete do Palácio da Alvorada, ladeado por Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro e Lúcio Costa.


Os computadores não ficariam de fora dessa revolução de modernidade. Em setembro de 1958, o governo criava um grupo de trabalho para estudar a viabilidade de se usar um computador para cálculo e distribuição dos recursos financeiros destinados à execução do Plano de Metas. Desse grupo nasceu, um ano depois, o grupo Executivo para Aplicações de Computadores Eletrônicos(Gease), que tinha entre outros objetivos instalar um CPD para atender as necessidades de diversos órgãos do governo. A fila era grande: o Conselho de Desenvolvimento Econômico, o IBGE, repartições de ministérios civis e militares, a Petrobrás, o Banco do Brasil...

O Gease também estimulou a aquisição de computadores pela iniciativa privada. Para isso, instituiu vários benefícios como isenções para os impostos de importação e sobre produtos industrializados. Atraídas por esses incentivos, três instituições trataram de adquirir suas máquinas. A Pontiifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro(um B205 da Burroughs), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE(um Univac 1105) e a empresa Listas Telefônicas Brasileiras(um Gamma, da Bull Machines).

O computador do IBGE era uma maravilha para a época.
Tinha duas memórias de núcleo de ferrite de mil bytes cada uma, uma memória de tambor de 256 mil bytes, dez unidades de fita magnética e um conversor de cartões para fita. Tudo isso ocupava um espaço correspondente a oito salas. Mas, apesar de toda essa capacidade, não funcionava direito. Os defeitos não paravam de aparecer. Todos os dias, inúmeras válvulas queimadas eram substituídas. Mas o principal problema residia no sistema de entrada e saída dos dados-composto de perfuradoras de cartões Power de 90 colunas, padrão Univac, uma leitora de cartões, uma unidade de fita e uma impressora - que nunca funcionou a contento. De nada adiantou o IBGE adquirir um novo computador, um Univac SS 80, para substituir o 1105. Como todo o parque de perfuração também tinha sido trocado, com a substituição dos cartões Power por cartões Hollerith, de 80 colunas, padrão IBM, a leitora de cartões do novo computador - que, teoricamente, deveria ler os dois tipos de cartão nunca conseguiu ler direito os que já tinham sido perfurados. Com isso( os dados do Censo de 60, que seriam tabulados pelos Cérebros eletrônicos, continuaram sendo somados a mão.

O fiasco do IBGE 56 foi superado dez anos depois. O processamento do censo de 70 ficou a cargo do RioDataCentro, 0 centro de computação da PUC-RJ. As tabulações avançadas do Censo, cujo processamento normalmente consumi ria dois anos, foram feitas no tempo recorde de seis meses. Ali estavam os dados ainda não refinados sobre população, escolaridade e outros, que permitiriam traçar a primeira estimativa da situação do pais. Os dados complementares, que iriam compor os Censos Demográfico, Econômico, Industrial e Agrícola, foram concluídos em 1975, contrariando as previsões pessimistas dos antigos estatísticos do IBGE, que esperavam que o censo de 1970 se fosse concluído em 1980.

Um dos mais importantes CPDs da década de 60 foi implantado pouco depois do golpe militar de 1964. Embora concebido ainda no governo João Goulart, para mecanizar os órgãos arrecadado!es federais, o Serpro Serviço Federal de Processamento de Dados foi criado no governo Castelo Branco, em dezembro de 1964. Contava com um computador IBM 1401, dois Univacs 1004 e uma centena de equipamentos periféricos. Três anos depois, o Serpro enfrentava um dos seus maiores desafios: processar 0 grande número de declarações do Imposto de Renda, que havia saltado de 600 mil para quatro milhões em apenas um ano como conseqüência da nova política de arrecadação fiscal implantada no governo Costa e Silva pelo ministro da Fazenda, Delfim Netto.

0 volume de trabalho, em si, era monumental. E a situação era agravada pelo fato de que o sistema de entrada de dados, baseado em cartões perfurados, não tinha capacidade para suportar operação de tal monta. 0 diretor-superintendente do Serpro, Jose Dion de Melo Teles, encontrou a solução dentro de casa. Mais precisamente no Grupo de Projetos Especiais GPE.

Formado por jovens engenheiros, muitos deles oriundos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) -como Dion , o grupo concebeu um sistema para substituir os obsoletos cartões perfurados: o concentrador de teclados. 0 sistema, que consistia de vários terminais com teclado semelhante a uma máquina de escrever, acoplados a um computador Hewlett-Packard, trouxe muito mais velocidade e confiabilidade ao trabalho de digitação e entrou em linha de produção em 1972. Ate 1976, foram feitos seis mil terminais; O sucesso do concentrador de teclados estimulou o GPE, a partir de então, a desenvolver outros equipamentos, como o telinha (STV-1600), um sistema de transcrição de dados por terminal de vídeo. Em 1977,todo o seu acervo -tecnologia e recursos humanos foi transferido para a Cobra, contribuindo para garantir a recém-criada empresa, por muitos anos, a liderança no mercado brasileiro de computadores. 

:: O Mercado Cresce ::
O governo estava cada vez mais consciente da importância dos computadores
para o desenvolvimento do pais. Em 1971, o Ministério do Planejamento fez a primeira radiografia do mercado brasileiro de informática. O número de computadores instalados no Brasil tinha saltado para 600 máquinas, das quais 75% eram da IBM, 20% da Burroughs 5% de outros fabricantes. O valor estimado do parque instalado era de 60 milhões de dólares e dos gastos com a mão-de-obra empregada nas atividades de manutenção de programas, operação de equipamentos e no desenvolvimento de software era de 90,9 milhões de dólares. A previsão era que, enquanto o mercado mundial crescia a razão de 20% ao ano, O mercado brasileiro iria crescer anualmente 30% no triênio 72/74 devendo chegar a 103,7 milhões de dólares somente em equipamentos. Somando-se os gastos com pessoal, O pais deveria gastar um total de 650 milhões de dólares no período.

O estudo do Ministério do Planejamento ia alem de uma mera tabulação dos dados do mercado. Com o sugestivo titulo de Esboço de Piano Nacional para a Computação Eletrônica, O documento concluía que setor computacional carecia de uma planificação e propunha algumas medidas para racionalizar O uso de máquinas e de software nos organismos governamentais e para incentivar a fabricação no país de componentes e computadores. Para implementar as medidas propostas pelo Piano, e também formular uma política de financiamento governamental às atividades de processamento de dados no setor privado, foi criada em 5 de abril de 1972 a Comissão de Coordenação das

Atividades de Processamento Eletrônico (Capre). A Capre era presidida pelo secretário geral do Ministério do Planejamento e tinha um plenário de decisões composto por representantes do Estado-Maior das Forças Armadas, do ministério da Fazenda, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), do Serpro, do Instituto Brasileiro de Informática -criado pelo IBGE em janeiro daquele ano para dar continuidade ao processamento do Censo e do Escritório da Reforma Administrativa.

Um dos primeiros trabalhos da Capre foi levantar a situação dos recursos humanos e a demanda de pessoal para os três anos seguintes e, com base nesses dados, traçar as diretrizes de um Programa Nacional de Ensino de Computação. O objetivo era criar uma serie de medidas que reduzissem o déficit de profissionais de informática no pais: 13,5% de operadores, 22,6% de programadores e 10,9% de analistas. A previsões era de que, com o crescimento do parque computacional- que deveria atingir em 1973, 74 e 75, respectivamente, 1 mil, 1.450 e 2.100 computadores-esse déficit aumentasse ainda mais


Entre as medidas propostas estavam a criação de um fundo para a aquisição de material didático, a formação de instrutores, que deveriam se deslocar para outras regiões do país fora do eixo Rio-São Paulo, e a inclusão da computacão nos currículos das escolas de primeiro e segundo grau. Uma das primeiras iniciativas foi a criação, em setembro de 1973, de um curso de formação de tecnólogos em processamento de dados na PUC-RJ, com o patrocínio do Ministério da Educação e Cultura (MEC).
Se não havia analistas, programadores e operadores em quantidade suficiente para operar os computadores, não faltava quem os vendesse. Estimulados com -e, ao mesmo tempo, estimulando- o interesse do mercado, os fornecedores traba- Ihavam a todo vapor para ampliar suas forças de vendas. A IBM, líder do mercado, começara a formar, a partir de 1960, uma equipe de alto nível, recrutada no ITA para substituir a antiga geração de vendedores, especializados em máquinas tabuladoras, perfuradoras e classificadoras. O mercado brasileiro era tão importante para as multinacionais que muitas delas não se limitavam a vender. As duas majores,IBM e Burroughs, investiram na implantação de grandes e modernas fábricas, que produziam tanto para o mercado interno como para exportação de produtos para escritório e equipamentos de processamento de dados.

A IBM iniciou suas operações no Brasil em 1917. Seu primeiro negócio no pais foi instalar as maquinas para o censo demográfico de 1920 e, na década de 30, expandia suas atividades abrindo filiais em diversos estados. Em 1939, a empresa inaugurava sua primeira fábrica no Brasil, no bairro carioca de Benfica 1. Em 1961, a fábrica de Benfica iniciava a montagem dos computadores da linha 1401. As atividades de fabricação se expandiram com a implantação de uma outra fabrica, em Sumaré (região de Campinas, São Paulo}. Na década de 70, a empresa tinha no país duas fábricas, mais de uma dezena de filais, número igual de escritórios e 15 centros de serviços de dados. E mais ainda estava por vir. Em 1976, inaugurava na paradisíaca região da Floresta da Tijuca, no Rio,
seu Centro Educacional* para executivos. E, em outubro de 1977, era a vez de inaugurar o novo edifício-sede da filial paulista, na avenida 23
de Maio,com 24 andares, 45 mil metros quadrados e projetado
segundo as normas da IBM de proteção ao meio ambiente e aos usuários do edifício.
A Burroughs, segunda maior fabricante de computadores, iniciou suas atividades industriais no Brasil em 1953, no Rio de Janeiro, realizando a montagem e, posteriormente, a fabricação de calculadoras e autenticadoras de caixas eletromecânicas. Posteriormente, implantou outra fábrica em Santo
Amaro, na época um município fora de São Paulo. Em maio de 1976, inaugurava sua sede própria -um edifício de 14 andares no centro do Rio de Janeiro - em solenidade que contou com a presença de diversas autoridades do estado, federais e de outros estados, das diretorias carioca e de outros estados, e de todo o conselho diretor da empresa, que veio especialmente de Detroit para realizar no Brasil a sua reunião de diretoria.

Já a HP, que atuava no país desde a década de 60 e em 1975 montou a sua primeira unidade industrial no continente latino-americano, em Campinas, dedicou-se a produzir, inicialmente, instrumentação de uso médico-hospitalar e calculado- ras de uso pessoal. Em pouco tempo, a fábrica tornou-se uma das maiores exportadoras de calculadoras eletronicas. Dois anos depois, ao mesmo tempo em queinaugurava novas instalações em Alphaville,município vizinho a São Paulo, a HP apresentava ao governo brasileiro um piano de expansão de suas atividades industriais, que previa a fabricação de minicomputadores.

*- O centro educacional da IBM começou a ser construído em dezembro de 1973. Com projeto do arquiteto Artur Lúcio Pontual, tinha dois prédios; um para cursos, com duas salas de aula com capacidade 25 alunos, 12 salas menores para estudos em grupo, um auditório com 50 lugares e yna biblioteca, além de salas para instutores e pessoal administrativo; e outro para hospedar os alunos, com três andares, 62 apartamentos individuais, salão para refeições, copa e cozinha e salas de leitura, de televisão e de bilhar. Cada apartamento dispunha de um terminal de video, que permitia os alunos consultassem o computador durante a noite. A programação educacional tinha dois níveis. O nível básico compreendia uma série de cursos para executivos, como conceitos de processamentos de dados, de informação gerencial ou planejamento para empresa. Já o nível avançado, era destinado ao treinamento das equipes de vendas e técnicas da IBM, e também a clientes - analistas de sistemas, programadores, gerentes de projeto e do CPD - e ofrecia informações avançadas sobre os sistemas IBM.

Parte 2 ..



NO FINAL DA DÉCADA DE 70, os computadores* deixavam de ser vistos como símbolo de status e já se tornavam personagens importantes nas atividades das grandes empresas, dos órgãos de governo e ainda que Indiretamente na vida das pessoas. Nos transportes, por exemplo. O metrô de São Paulo, inaugurado em 1976, era comandado por um sistema totalmente automatizado, um dos mais modernos do mundo. Da mesma forma que embaixo da terra o computador também já era um componente indispensável nas atividades ligadas ao transporte aéreo. A Vasp, uma das mais importantes companhias aéreas da época, importava naquele ano mais dois computadores da 18M, que iriam se juntar ao IBM 360/ 40 adquirido em 1974 com uma configuração de 256 Kb de memória, nove drives, seis unidades de fitas magnéticas, uma leitora e uma perfuradora de cartões e uma impressora com capacidade de 100 1inhas por minuto. O sistema de reservas da Vasp funcionava com cerca de 150 terminais espalhados por 10 cidades brasileiras e que se comunicavam com o computador central através de uma linha telefônica.

O aeroporto internacional do Rio de Janeiro, inaugurado em 1977, contava com um complexo sistema de processamento: cinco mil terminais controlavam toda a vida do novo Galeão** comandando todos os procedimentos relativos a vôos, sistemas de comunicação, vigilância e o controle de equipamentos elétricos e eletrônicos. Nada escapava à ação do sistema, baseado em computadores IBM: desde o estacionamento de carros, vendas de passagens, informações veiculadas nos portões de embarque e desembarque, além dos serviços de meteorologia e proteção de vôo.
Nas ruas da capital paulista, o obsoleto sistema de sinalização, cuja tecnologia datava do período pós-guerra, começaria a ser substituído, também naquele ano, por um novo programa de controle e coordenação dos sinais de trânsito. A expectativa das autoridades era que este iria permitir uma melhoria no fluxo do tráfego e, conseqüentemente, menor consumo de combustível , diminuição do número de acidentes com veículos e com pedestres, a redução no tempo de percurso dos veículos e das paradas nos sinais. Outra contribuição da informática para melhorar a qualidade de vida dos paulistanos veio através das telecomunicações. Ainda em 1977, a Telesp, empresa de telefonia do estado, começava a operar um avançado sistema de comunicação telefônica controlado por programa armazenado (CPA). Fabricado pela Philips em sua fábrica do Recife, o CPA vinha substituir as antigas centrais eletromecânicas. A nova tecnologia prometia muitas vantagens tanto para a administração do serviço telefônico, devido à facilidade para controle de tráfego e manutenção das centrais, como para os usuários, que poderiam contar com recursos como discagem abreviada, transferência de chamada e identificação do número do telefone que efetuou a chamada.

Segundo levantamento da Capre, divulgado em 1977, os gastos das empresas brasileiras com processamento de dados quase que duplica- ram em 1976, subindo de 6,2 bilhões de cruzeiros em 1975 para 10,4 bilhões de cruzeiros. A maior parte das despesas (58,5%) era com pessoal: 5,6 bilhões de cruzeiros. O Brasil tinha 3.302 computadores "minis", 1.308 "pequenos", 338 "médios", 99 "grandes" e 75 "muito grandes".*Compras
Segundo levantamento da Capre, divulgado em 1977, os gastos das empresas brasileiras com processamento de dados quase que duplicaram em 1976, subindo de 6,2 bilhões de cruzeiros em 1975 para 10,4 bilhões de cruzeiros, A maior parte das despesas (58,5%) era com pessoal: 5,6 bilhões de cruzeiros. O Brasil tinha 3.302 computadores "minis", 1.308 "pequenos", 338 "médios", 99 "grandes" e 75 "muito grandes".

**Computador dedo Duro
Em 1978, o antropólogo Darcy Ribeiro. um dos fundadores da Universidade de Brasília e chefe da Casa Civil do governo João Goulart, passou mais de cinco horas detido nas dependências da Policiá federal, no Rio de Janeiro, porque o terminal de computador usado para a fiscalização de sarda de passageiros no aeroporto do Galeão citava seu nome entre os cassados que deveriam ser detidos e não podiam deixar o pais. Embora seus documentos estivessem em ordem e possuísse uma autorização especial do Ministério da Justiça para viajar, Darcy Ribeiro não pode embarcar no vôo que o levaria ao México,pois o computador mandava prendê-lo. Somente na madrugada do dia seguinte é que chegou um telex de Brasília liberando-o.
Saiba mais sobre Darcy Ribeiro Clicando na Foto.



::Computador na Saúde::

Permeando a vida de todos os brasileiros, os computador também estava presente na área da saúde. No início de 1977, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) começava a implantar o Sistema Integrado de Controle de Assistência Médica, que tinha como objetivo levantar a demanda de serviços de saúde e os recursos disponíveis em cada município brasileiro. O primeiro módulo era o sistema de contas, com qual o INPS pretendia reformular o pagamento aos seus hospitais e o atendimento que estes prestavam aos segurados. O processo anterior, implantado em 1967 e cuja revisão era feita manualmente tinha diversos pontos de estrangulamento, o que gerava pagamento de contas sem a devida fiscalização e, conseqüentemente , distorções nos pagamentos.

Quem mais lucrava com a situação eram alguns hospitais. Os abusos praticados iam desde a apresentação de despesas absurdas de gaze para simples curativos até a cobrança de cirurgias de pacientes que ficavam internados apenas três dias.
Os sistemas do INPS e de outros órgãos de governo como a Central de Medicamentos(Ceme), a Legião Brasileira de Assistência (LBA) e a Justiça Federal* eram processados pela Dataprev, empresa criada em abril de 1975 para ser o centro de processamentos de dados da Previdência.

Isso significava não só um grande volume de trabalho como a multiplicidade de atividades. Em 1976, o desempenho operacional da empresa tinhas os seguintes número: mais de mil programas, 72 milhões de documentos digitados, 37 mil horas de computador, 1 bilhão e meio de registros, 18 milhões e meio de formulários contínuos, 53 mi malotes expedidos e o processamento e pagamento de cerca de 12 milhões de contas médico-hospitalares.

Numa demonstração de importância da Dataprev para as atividades do governo, o presidente Ernesto Geisel inaugurava, em julho de 1977, a nova sede operacional da empresa, um prédio de quatro andares no bairro de laranjeiras, no Rio. A empresa inaugurava também, o seu novo computador, o Burroughs 7700, de última geração. O equipamento, com 4Mb de memória, 28 discos e seis impressoras, era considerado na época o maior do hemisfério sul e foi o primeiro da sua categoria a ser instalado fora dos Estados Unidos. Além do novo computador e do antigo B6700, que foi mantido, a Dataprev contava com 450 sistemas ICL de entrada de dados, distribuídos por 10 pólos regionais.
Paraíso dos Birôs

Inspiradas nos modelos do Sepro e da Dataprev, outras empresas de processamento de dados estatais surgiam em todo o país. Uma das maiores era a Prodesp – Companhia de Processamentos de Dados do Estado de São Paulo. Criada em 1969, a empresa se expandiu rapidamente e, em 1977, contava com um parque instalado amplo, poderoso e diversificado, integrado por computadores de grande porte como o IBM/370-158 com 2MB de memória, discos de 4 Mb, 18 unidades de fita, o Burroughs 6700 (instalado em sua unidade funcional na Secretaria de Segurança Pública) e o Univac 1100 (instalado na unidade funcional do Hospital das Clínicas).

Embora sem dispor de um parque computacional tão poderoso quanto o da Prodesp, outras empresas estatais não poupavam recursos para estar sempre em dia com a tecnologia e ampliar a capacidade de seus equipamentos. Enquanto, no amazonas, a Prodam ( Processamento de Dados do Amazonas) adquiria um computador Honeywell Bull, com 1Mb de memória, para controlar sua rede de teleprocessamento, em Brasília, o Prodasen ( Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado Federal) ampliava a capacidade de armazenamento do seu sistema IBM 370 modelo 158, de 1Mb de memória, instalado em 1972. Em 1981, quando a capacidade de memória do computador já tinha sido quadruplicada, o Prodasen colocava à disposição do Congresso o fruto de um trabalho de três anos: um sistema que permitia aos deputados e senadores acompanhar o orçamento do Executivo, numa série de cinco anos.

Publicidade


Em 1977, 15 empresas estaduais de Processamento de Dados (Abep), que tinha como função principal a troca de informações técnicas. Como a primeira medida prática, estava nos planos da Abep a criação de um banco de software básicos de aplicação que seria compartilhado entre as empresas associadas.

O crescimento do mercado permitiu o surgimento de um grande número de empresas de serviços – inicialmente chamadas de bureaux e que, como o tempo, tiveram o nome simplificado para birôs – que atendiam tanto o mercado privado como o governo. Contando com computadores de grande porte, software de última geração e grande número de profissionais, os birôs eram uma alternativa de agilidade e redução de custos para os problemas de processamento de dados das empresas. Sua agilidade comercial permitiu conquistar, também, importantes serviços governamentais como, por exemplo, a apuração dos votos nas eleições** nas principais capitais e em cidades do interior de diversos estados, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, entre outros.

Em junho de 1976, um grupo de birôs cariocas fundava, no Rio de Janeiro, a Assespro-Associação de Empresas de Serviços de Processamento de Dados. Pouco tempo depois, a entidade ampliava sua abrangência, passando a atuar em âmbito nacional.
Os usuários também buscavam obter maior representatividade no mercado, através da sua entidade, a Sociedade dos Usuários de Computadores e Equipamentos Subsidiários (Sucesu). Criada em 1965, no Rio de Janeiro, tinha como objetivo auxiliar e orientar o administrador na tomada de decisões, conscientizar o empresário quanto à importância da utilização do computador e promover a troca de experiências. Outros estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Pernambuco, criaram unidades regionais, que se juntaram, em 1969, para criar a Sucesu nacional, com sede no Rio.

Jornal da Época


Já a principal preocupação dos profissionais era a regulamentação da profissão. É que, embora empregasse mais de 30 mil pessoas, o processamento de dados ainda não era uma atividade legalmente definida no país. Para encontrar solução para este e outros problemas da categoria, os profissionais formaram, em 1977, uma associação nacional congregando preparadores, digitadores, operadores, analistas e programadores.
Além dos interesses profissionais, outro tema era alvo da preocupação da comunidade de informática: até que ponto a vida privada do cidadão poderia ser ameaçada pela quantidade e cruzamento de dados sobre ele disponíveis? Em 1978, dois projetos de lei sobre o assunto tramitavam no Congresso. Um deles, de autoria do deputado oposicionista José Camargo (MDB-SP), pretendia "disciplinar a prestação de informações pelos centros eletrônicos". Sua justificativa para o projeto eram os perigos resultantes da concentração de todas as informações disponíveis sobre todas as pessoas em um único cadastro. "Antigamente, os dados pessoais de cada indivíduo eram extremamente difíceis de serem coletados. Mas hoje, com o progresso da informática, em poucos segundos poderemos ter em mãos toda a vida de qualquer pessoa, com número de identidade civil, ficha biomédica, cadastro do Imposto de Renda, saldo bancário, ficha educacional e centenas de outras informações que, manipuladas inescrupulosamente e para fins escusos, sem dúvida trarão sérias dificuldades para qualquer um", justificava o projeto.

Publicidade


O projeto do deputado José Ribeiro Faria Lima (Arena- SP), propunha a criação de um Registro Nacional de Bancos de Dados, que teria a Capre como órgão fiscalizador do funcionamento desses bancos. O projeto tinha sido redigido para regulamentar o direito de acesso e retificação de informações pessoais, previsto em emenda à Constituição, apresentada anteriormente pelo próprio Faria Lima.
Os dois projetos tinham surgido como reação a uma suposta iniciativa do Ministério da Justiça de se adotar no país o número único. Suposta porque, na verdade, ninguém a tinha visto até então. O próprio deputado Faria Lima tinha confessado, em um debate público, que redigira seu projeto de lei protegendo o cidadão contra possíveis indiscrições do número único, sem conhecer os termos a serem propostos pelo Ministério da Justiça. O projeto de criação do temido número único, como estava -ou se supunha estar -sendo delineado na década de 70, não foi à frente. Mas, se não vingou em termos formais, na prática, ele acabou se concretizando, progressivamente, nos anos seguintes. Com outro nome -Cadastro de Contribuintes Individuais (ClC) -e sob controle dos órgãos da área econômica. E, além disso, reforçado pelas bases de dados de entidades privadas da área financeira, criadas sob a justificativa de identificar maus pagadores e reduzir os riscos envolvidos na concessão de créditos.

Demonstrando a importância que temas como a disseminação e o controle da informação começavam a assumir no país, surgiam as primeiras iniciativas voltadas para democratizar o acesso aos dados. Uma delas, que começava a tomar forma no final de 1978. era o projeto Aruanda***. do Serpro. Definido como um "serviço de distribuição de informações sócio-econômicas", o Aruanda se propunha a fornecer acesso público a essas informações dados sobre agropecuária, indústria, serviços, finanças públicas, força de trabalho, economia internacional e contas nacionais, devida- mente analisados e arquivados através de terminais espalhados nas principais capitais do país. Inicialmente, estava prevista a instalação de 60 terminais, sendo 20 em Brasília, 20 em São Paulo e 20 no Rio.
* Processos mais ágeis
Em 1976, a Justiça Federal iniciou os estudos para criar um sistema integrado de processamento de dados. Dois anos depois, era implantado o primeiro subsistema, de execução fiscal, que permitia agilizar a tramitação do grande volume de processos de execução fiscal da Fazenda Nacional. Além de emissão automática de mandados e citação, o subsistema fazia cáculos atualizados, dava baixa na distribuição e, ainda, permitia obter fichas de controle com todos os dados necessários aos processos e sobre o andamento dos mesmos. Entre as vantagens estava a redução do trabalho nas secretarias das varas onde os processos eram recebidos e autuados e a segurança contra extravios, uma vez que todos os processos eram registrado com um único número nacional. Outros subsistemas, implantados nos anos seguintes, foram o de emissão de certidões de distribuição, o de acompanhamento dos processos por fases e o de estatística e auditoria, voltando para a administração da Justiça.

**"ESSE PROCESSO ELEITORAL NEM EM UGANDA EXISTE.
A APURAÇÃO DESSAS ELEIÇÕES É TERRÍVEL".


A FRASE DO JUIZ ELEITORAL Luiz César Bittencourt, publicada na edição de 23 de novembro de 1982 do Data News, resumia a situação caótica que foi a apuração das eleições no Rio de Janeiro. O primeiro problema a ser apontado foi a lentidão. Mais de 48 horas após o fechamento das urnas, a Proconsult Racimec e Associados, encarregada da totalização dos votos juntamente com outras quatro empresas, não tinha conseguido fornecer nenhum resultado oficial do pleito.

Uma das explicações para o fato era a grande quantidade de candidatos e partidos, além do fato de o computador ter sido usado somente para a totalização dos votos, sendo o restante do processo de apuração feito manualmente. Devido à pouca experiência das pessoas encarregadas da contagem dos votos -que receberam treinamento de apenas um dia -os subtotais e totais nunca fechavam. Os mapas, mesmo errados, eram enviados para os digitadores, que deviam copiá-los na íntegra. Os dados registrados em fita magnética eram, então, remetidos à Proconsult para processamento. Como os totais não casavam com o número 'de votos, o computador rejeitou a maioria dos mapas apurados.

Mas a lentidão foi apenas a ponta de um imenso iceberg, que ameaçou anular as eleições cariocas. Os sucessivos erros nos boletins de totalização levaram a Proconsult a indicar o candidato Moreira Franco como futuro governador do Estado. Convencido de que estava em curso um processo de fraude para impedir sua vitória, o então segundo colocado, o ex-governador gaúcho Leonel Brizola, que tinha acabado de regressar ao Brasil depois de anos de exílio, fez um grande estardalhaço. Depois de muitas acusações, forte repercussão na imprensa, auditoria e até mesmo inquérito na Polícia Federal, a Proconsult conseguiu finalmente "acertar" o seu sistema e fornecer os dados corretamente. A auditoria feita pelo Serpro comprovou a validade desses dados, mas não pode verificar a existência defraude, uma vez que os técnicos da empresa não tiveram acesso aos programas-fonte do sistema da Proconsult. No final da apuração. Leonel Brizola foi declarado vencedor.

Reportagem da época
***Distribuição de informações
Ao mesmo tempo em que buscavam reunir e processar o maior número possível de informações sobre empresas e pessoas, os órgãos de informática do governo ou pelo menos alguns se preocupavam também em tomá-Ias disponíveis para a sociedade. Esse era o caso do Serpro, que em 1978 dava forma final a um projeto para criar um. "serviço de distribuição de informações sacio- econômicas". Batizado de Aruanda, o projeto se propunha a fornecer acesso público a essas informações dados sobre agropecuária, indústria, serviços, finanças públicas, força de trabalho. economia internacional e contas nacionais. devidamente analisados e arquivados através de terminais espalhados nas principais capitais do país. Inicialmente. estava prevista a instalação de 60 terminais, sendo 20 em Brasília, 20 em São Paulo e 20 no Rio.

Fonte: Livro "Memórias do Computador", Vera Dantas/Sonia Aguiar)


Continuação em Breve!

Nenhum comentário:

Postar um comentário